[center]A História de um Imigrante[/align]
[justify][size=150][font=fantasy][tab=30]Me chamo Pedro Diego Figueiredo Santana Sobrinho, mas sempre fui chamado simplesmente de Diego. Nasci em São João Del Rei das Minas Geraes, no ano de Nosso Senhor de 1866. Meu pai era um pequeno plantador de café, de forma que não éramos ricos, mas pobres também não éramos: sempre tivemos boa comida à mesa e boas roupas para vestir. Mais jovem de três irmãos, todos trabalhávamos no plantio do café, e doutras culturas comestíveis, bem como criávamos algumas cabeças de suínos. O que não produzíamos, comprávamos nas idas quinzenais à cidade.
[tab=30]A vida era boa, e assim foi até que minha família viu-se vítima da chamada febre amarela, que fora fatal para meus pais e meus irmãos, tendo eu sido salvo graças ao Doutor Paranhos, médico mui dedicado e que se esforçou ao máximo para nos salvar. Tendo, milagrosamente, me recuperado, vi-me, aos 23 anos, órfão e dono de uma pequena fração de terras.
[tab=30]Ainda me esforcei para manter a fazenda, terminando a colheita daquela safra com a ajuda dalguns vizinhos. Mas, terminada a venda do café, que deveria eu fazer? Meus pais haviam imigrado e não tinham outros familiares no país, de modo que eu não tinha laços que me prendessem. Vendi a fazenda – a “preço de banana”, conforme de disse o tabelião – e, juntando os lucros da safra, mandei-me para o Rio de Janeiro.
[tab=30]Lá chegando, fiquei meio perdido por algum tempo, sem saber o que fazer da vida. Mas, ao ouvir a conversa de dois homens no porto, que falavam de emigrar para um país distante, nasceu em mim um desejo de conhecer o mundo. Tal país, de cidades extraordinárias, de povos antigos, de histórias de conquistas e guerras e, principalmente, uma terra de oportunidades, era chamada de Gesébia. Sem ter nada a perder, gastei grande parte de meu dinheiro comprando uma passagem no primeiro navio que zarparia com direção à esta terra misteriosa.
[tab=30]Sofri nos primeiros dias da longa viagem, eu que nunca havia posto os pés num navio mas, com o tempo, aclimatei-me, de forma que grande parte da longa viagem foi tranquila.
[tab=30]Quando finalmente atracamos, me vi em uma cidade enorme, que o capitão disse chamar-se Gardignon, onde pessoas iam e vinham o dia todo, comprando, vendendo, transportando… Mas, ao entrar em uma pequena taberna próxima ao porto e pedir algo para comer, ouvi as pessoas comentando da crise que se abatia sobre o Império. Valha-me Deus! Gastei praticamente todo o meu dinheiro na viagem, para descobrir que a tal “terra das oportunidades” passava por uma crise sem precedentes!
[tab=30]Mas, que podia eu fazer? Conversando com o taberneiro acerca de minhas pretensões nesta terra, ele disse-me que eu deveria primeiro me registrar e abrir uma conta bancária. “Mas não tenho dinheiro”, disse-lhe, ao que ele retorquiu que era a lei e, para ser um cidadão gesebiano, era o que eu deveria fazer.
Segui, então, ao Cartório de Pessoas Naturais, onde fui mui cortesmente recebido, e após responder ao questionário, donde vinha, minha idade, que pretendia no país, dentre outras cousas, o jovem atendente indicou-me como chegar à Agência do Banco mais próxima. Lá fui também mui cortesmente atendido, e após preencher todos os dados, recebi uma Conta-Corrente de Pessoa Física, onde poderia acompanhar meus gastos e despesas no Império. Passeando pela cidade, achei um pequeno casebre à venda, e comprei-o com o parco dinheiro que ainda possuía.
[tab=30]Voltei à taberna, para jantar, e em outra conversa com o taberneiro, comentamos sobre a crise que o país passava, e este me sugeriu ir para o campo, que comida sempre seria necessária, não importando o tamanho que fosse a crise. Sugeriu que eu fosse para Áquila, indicou-me um carroceiro que havia trazido produtos de lá e estava por retornar, de forma que, ao alvorecer do dia seguinte, parti pela chamada Via Appia.
[tab=30]Comparada com a capital, cosmopolita, com uma balbúrdia constante de muitas línguas e sotaques, Áquila era muito mais tranquila, embora não menos esplendorosa, com muitas estátuas e prédios de tempos antigos. A língua tinha uma leve lembrança do italiano, talvez denotando assim a origem dos fundadores daquela região, sabe-se quantos séculos atrás. Logo consegui emprego em uma fazenda que cultivava trigo, feijão e milho. O capataz era uma boa pessoa, se preocupava com os empregados, de forma que, ao final da safra, parte da produção foi dividida entre todos.
[tab=30]Mas, finda a mesma, demoraria ainda um bom tempo para iniciar a nova colheita, de forma que segui ao leste, chegando à uma terra ainda mais pitoresca, chamada Piemonte. Lá, trabalhei em uma fazenda de gado, onde minha função era marcar os animais e conta-los quando eram vendidos. Passei bons tempos lá, e nos finais de semana íamos até a cidade, bem menor que as que eu havia conhecido, mas mui agradável, pipocavam galerias de arte, artistas de rua e estudiosos de todo tipo.
[tab=30]Mas aquele desejo de conhecer o mundo voltou a bater no meu peito, e vi-me pegando a estrada um dia, seguindo para a chamada “Muralha Branca” do oeste. Segui pela costa, conhecendo vilarejos de gente simples, até que cheguei a uma região deveras úmida e, em certos pontos, pantanosa. Chamada Cisalpe, era uma região de militares e ex-militares, com grandes fortes e prisões marcando a paisagem. Consegui trabalho em uma fazenda de porcos, foi um bom período, ao contrário da austeridade da cidade, o povo do campo foi bem receptivo, e o trabalho era bom.
[tab=30]Chegou, então, a notícia de que haviam descoberto ouro nas chamadas “Montanhas Azuis” e, como muitos, segui tentar a sorte em Firgen. O choque foi tremendo. As pessoas, em geral, eram simples, sem ostentação ou luxos desnecessários, mas obstinadas, trabalhadoras e honestas. Mas minha aventura teve, digamos, um resultado diferente do que eu esperava. Vi-me trabalhando em uma Mina de Ouro, que aparentemente produzia todo o ouro que o Banco utilizava para cunhar novas moedas – um trabalho importante, e cheguei a ser chefe de equipe.
[tab=30]Uma nova notícia então percorreu a região: a ferrovia estava chegando! Adorava os trens do meu Brasil, e rapidamente deixei o trabalho na mina para ajudar a colocar os trilhos deste novo empreendimento. Ajudei, com orgulho, a carregar a primeira locomotiva do país, que havia chegado a Cisalpe de navio, em um grande carroção para ser levada até Firgen, onde foi colocada nos trilhos. Quando nosso trabalho chegou a um rio de águas gélidas, uma notícia horrível chegou: guerra!
[tab=30]As notícias eram terríveis: o Rei da Romania – que eu nem sabia ser um reino – e o restante da família real foram mortos por rebeldes, que exigiam independência do Império. Algum tempo se passou nesta indefinição, até que nós, ferroviários, fomos convidados a pegar em armas e ajudar o Império. Assim o fiz.
[tab=30]A guerra foi longa – e sangrenta. Vi companheiros serem mortos a meu lado, e matei alguns rebeldes também. Não me orgulho disso, mas era algo necessário. Íamos avançando pouco a pouco, até que soubemos que Áquila havia caído a um ataque conjunto da Armada Imperial, dos Fuzileiros Imperiais e dos chamados Patrulheiros Draconianos. Piemonte ainda demoraria a cair, mas eu mesmo não cheguei a participar dos combates, tendo sido designado para ficar em Áquila vigiando os prisioneiros. Mas, por fim, a paz foi declarada, e iniciou-se a reconstrução das cidades destruídas.
[tab=30]Recebi o pagamento prometido por haver pego em armas, mas não pude continuar trabalhando na ferrovia, muitos amigos que havia feito na dura labuta diária morreram na guerra, e, mais uma vez, parti.
[tab=30]Cheguei novamente em Gardignon, onde fiquei alguns dias. Presenciei o povo se reunir para despedir-se do Imperador, que aparentemente havia sido feito prisioneiro na guerra, e nunca conseguira se refazer do que havia passado. Presenciei a coroação do filho do mesmo como novo Imperador, e ouvi muito se comentar as mudanças no governo que o mesmo fizera logo após – grande parte se mostrava preocupada com a troca do Chanceler, pois o anterior teria tido grande influência na recente industrialização do país, mas outros pareciam aliviados por finalmente “se livrarem do draconiano”.
[tab=30]Procurando trabalho, segui para o norte, chegando à uma bela cidade portuária chamada Dunord, com um pujante porto, com estaleiros e dezenas de barcos atracando e zarpando diariamente. Logo consegui trabalho em um pequeno barco mercante, que comprava e vendia mercadorias diversas nos portos do Império. O trabalho era duro, mas o mar me atraía, de forma que era estava satisfeito.
[tab=30]Mas minha vida não parece ser destinada a ser fácil. Em uma de nossas viagens levando peixes e frutas de Dunord para Gardignon, fomos pegos por uma grande tempestade, cujas ondas gigantes acabaram por fazer o barco emborcar. Agarrei-me a um dos mastros que foram partidos pelos fortes ventos, mas não tinha esperanças de sobreviver, e eis que um navio da Armada Imperial, que estava a fazer manobras quando a tempestade iniciou, vendo nosso barco com problemas, avançou em nossa direção e conseguiu salvar a maioria dos náufragos.
[tab=30]E mais uma vez me vi na Gardenha… Ainda não sei como seguirei minha vida, mas esta é, de fato, uma terra de oportunidades. Talvez eu até acabe entrando na Armada Imperial. Quem sabe…[/font][/size][/align]