Originários das regiões meridionais da Escandinávia, os Godos eram um povo germânico que se distinguia pela fidelidade ao seu rei e comandantes, também por usar espadas pequenas e escudos redondos. Desta forma, deixaram a região do rio Vístula (atual Polônia) em meados do século II, e alcançaram o Mar Negro.
Reino godo no mar Negro
O godo Athanerik é considerado o primeiro rei godo. Em torno do ano 300 unificou todas as tribos godas sob sua soberania e formou o primeiro reino godo em terras da atual Ucrânia e Rússia, terras até então pertencentes à cultura Chernyakhov. Não se sabe em que data seu sucessor assumiu, porém sabe-se que seu sucessor foi Achiulfo. Durante o governo de Achiulfo, os godos ocuparam as terras que rodeiam o Volga e submetendo os sármatas, citas e gépidas. Em 350 Achiulfo foi sucedido por Hermenerico.
Hermenerico, também conhecido pelas variantes Hermanarico e Ermanrico, foi o ultimo rei dos godos unificados, às vésperas das invasões bárbaras do Império Romano. Embora os limites exatos de seu território ainda sejam obscuros, ele parece ter se estendido a partir do sul dos pântanos de Pripet, entre os rios Don e Dniester. Sabe-se com alguma segurança apenas que os feitos militares de Hermenerico fizeram com que ele fosse temido pelos povos vizinhos, e que cometeu suicídio ao desesperar-se por não poder resistir com sucesso aos hunos, que invadiram seu território a partir de 370. Seu reino foi destruído e seu povo acabou dividindo-se em visigodos e ostrogodos. Os visigodos se mantiveram sob o rei Fritigerno e os ostrogodos com o rei Vitimiro.
Tanto os ostrogodos quanto os visigodos nitidamente se romanizaram durante o século IV pela influência do comércio com os bizantinos, e por sua participação em um pacto militar com Bizâncio para ajuda militar mútua. Eles se converteram ao arianismo durante esta época.
O Primeiro Reino Ostrogodo
Vitimiro foi elegido em um momento em que o povo ostrogodo vivia em uma situação muito precária tendo se suportar diversas derrotas frente aos hunos. Em 376, os ostrogodos sofreram uma derrota terrível, onde morreu o próprio Vitimiro. Como o filho de Vitimiro, Viderico, era uma criança, os generais Alateo e Safrax assumiram a regência até que ele cumprisse 21 anos. Após a derrota em mãos hunas, os ostrogodos dirigidos por Safrax e Alateo se dirigiram junto com os visigodos até o Dniestre, e mais adiante em direção ao Danúbio e ao Império Romano, porém outro grupo importante foi submetido pelos hunos.
Alateo e Safrax aderiram à revolta de Fritigerno e com ele participaram da Batalha de Adrianópolis em 378. Após esse período a única coisa que sabe sobre os três é que foram instalados junto com seu povo pelo imperador Graciano na Panônia. Até o ano de 453 as únicas referências aos ostrogodos são as informações das ajudas militares destes ao Império Huno, principalmente na Batalha dos Campos Cataláunicos (451). Em 453 com a morte de Átila, os godos Valamiro, Videmiro e Teodomiro começaram uma revolta contra os hunos que acabaria causando em 454, com a Batalha de Nedao, a libertação do povo ostrogodo das mãos hunas. Em 454 os ostrogodos libertos foram junto dos três revoltosos para a Panônia onde formaram um reino ostrogodo. Esta região como já mencionado já estava sendo habitada pelos godos que fugiram dos hunos anos atrás.
Valamiro, Videmiro e Teodomiro tornaram-se reis dos godos compartilhando o poder e o titulo.
Uma disputa relativa a certos impostos anuais levou Valamiro a dirigir um exercito de ostrogodos contra Constantinopla (459 – 462), onde o imperador bizantino Leão I prometeu um pagamento anual de ouro para satisfazê-lo. Durante um ataque contra os citas, Valamiro caiu de um cavalo e morreu (465). Após a guerra contra hérulos, gépidas e citas pelo controle da Panônia, Videmiro se dirigiu com uma porção de ostrogodos até a Itália, em 473. Ali, o imperador Glicério os aconselhou a dirigir-se a Gália junto com seus parentes visigodos.
Desde então, Teodomiro, que era o maior dos irmãos, ficou como único rei dos ostrogodos da Panônia.
Casou-se com Erelieva, com que teve dois filhos: Teodorico e Amalafrida. Quando Teodomiro morreu em 474, seu filho Teodorico o sucedeu como rei.
Teodorico
Teodórico viveu na corte de Constantinopla por vários anos, onde aprendeu muito sobre o governo romano e táticas militares, que lhes serviram fartamente, quando ele se tornou o governante godo de uma grande mistura de povos romanizados. Tratado com generosidade pelos imperadores Leão I e Zenão I, ele se tornou magister militum (ou mestre militar) em 483, e, um ano depois, cônsul. Voltou, então, a viver entre os ostrogodos, com pouco mais de 20 anos, tornando-se seu rei em 474.
Nessa época, os ostrogodos se estabeleceram no território bizantino como foederati (aliados) dos romanos, mas estavam também se tornando impacientes e progressivamente dificultavam o domínio de Zenão I. Não muito depois de Teodorico se tornar rei, ele e Zenão I concluíram um acordo que beneficiava os dois lados. Os ostrogodos precisavam de um lugar para viver, e Zenão I estava tendo sérios problemas com Odoacro, rei da Itália que tinha causado a queda do Império Romano do Ocidente em 476. Ainda que formalmente fosse um vice-rei do Imperador Zenão I, Odoacro estava ameaçando territórios bizantinos e não respeitava os direitos dos cidadãos romanos na Itália. Com o encorajamento de Zenão I, Teodorico invadiu o reino de Odoacro.
A Conquista da Itália
Teodorico chegou com seu exército à península Itálica em 488, onde venceu a batalha de Isonzo (489), a batalha de Milão (489) e a de Adda, em 490. Em 493, tomou Ravenna. Odoacro rendeu-se e foi morto pelo próprio Teodorico. Como Odoacro, Teodorico era formalmente apenas um vice-rei para o imperador romano em Constantinopla. Na realidade, ele agia com independência, e o relacionamento entre o Imperador e Teodorico era de iguais. Contudo, diferentemente de Odoacro, Teodorico respeitava o acordo que tinha feito e permitia que os cidadãos romanos dentro do seu reino fossem submetidos à lei romana e ao sistema judicial romano.
O Segundo Reino Ostrogodo
Teodorico agora dispunha de um novo reino. Mais desenvolvido (apesar de tantos revezes) que as terras do Danúbio. Roma era uma sombra do que já fora algum dia, mas para Teodorico era a chance de seu povo construir um reino vigoroso e civilizado em cima dos escombros de Roma. Teodorico, o grande, tinha um grande respeito pela cultura romana, vendo a si mesmo como um de seus representantes.
A sua corte, onde se encontram os grandes funcionários do passado (prefeito do pretório, condes das regiões sagradas, etc.), é o ponto de encontro dos guerreiros godos romanizados e dos nobres romanos aliados à monarquia. Graças às cartas respei tantes à administração e reunidas por Cassiodoro em Variae e graças aos papiros de Ravena, podemos traçar um quadro da vida social e da situação económica italiana no início do século VI. Pode-se verificar que os problemas postos no século IV preocupam ainda o governo (crise frumentária, extensão da grande propriedade, etc.).
O Senado, ao qual Odoacro já concedera o direito de cunhar moeda, ganha de novo um certo prestígio e acolhe como um imperador o bárbaro, que é reconhecido como Flavius Theodoricus. Para reatar a tradição imperial, Teodorico manda organizar jogos, efetuar grandes trabalhos (secagem dos pântanos de Ravena e dos campos romanos), restaurar os grandes monumentos de Roma e construir outros em Ravena, Pavia e Verona.
Theodoricus, buscando uma assimilação de seu povo com a nova cultura presente, escolhe homens de sua confiança para serem romanizados, alfabetizados e iniciados na arte de governar, assim como são organizados o alfabeto e língua góticos, pois a nobreza gótica seria bilingue, respeitando o seu passado mas também construindo seu futuro. A maioria de seu povo fixa-se no norte da Itália, onde recebem terras e montam quartéis para a defesa. Theodoricus monta sua morada em Ravenna.
Para melhorar as questões econômicas em seu reino, Theodoricus cria uma reforma agrária nas terras sob seu julgo e as concede aos italianos residentes em troca de apoio militar. A idéia por trás disso é criar o mesmo espírito que havia nas legiões romanas da época da república, que era formada por homens que lutavam por sua terra. Antigos generais romanos assim como os generais godos ficam encarregados de treinar essa nova classe de fazendeiros militares. Outras ações também são tomadas na medida de libertar servos que assim se tornaram pelos constantes conflitos na península, que os afundou em dívidas… Theodoricus lentamente vai comprando a liberdade de vários deles, pois sabia que se queria importante uma base de apoio num território étnico diferente.
A nobreza e a igreja italiana ficavam na maior parte do tempo alheias aos ostrogodos. Era comum a afirmação na época entre os nobres, que os Ostrogodos jamais seriam romanos. Theodoricus sabendo que um conflito com essa nobreza e igreja serão inevitáveis, procura ganhar tempo. Importa do oriente livros para a construção de uma biblioteca, assim como tutores gregos para a nobreza gótica.
Em 508, Theodoricus salva a monarquia visigótica de uma derrota total e ocupa a Provença, assegurando assim a essa região a prosperidade, que manterá até ao fim do século VI. Enfim, ele protege a Itália, reconquistando a Dalmácia, a Récia e a Panónia, que a fortaleza de Sírmio defende de novo, e faz todos os esforços para que essa Itália reconstituída fique amigavelmente independente do Império Bizantino.
Um programa forte de reconstrução de estradas e iniciado pelo reino para revitalizar o comércio. Assim como novas rotas são abertas com os Francos, Visigodos e Vândalos. Como a nobreza romana continua fechada em seu próprio mundo, Theodoricus inicia a construção de oficinas industriais estatais, tanto para a criação de empregos nas cidades como para o desenvolvimento econômico, pois era notório o atraso em relação ao Oriente nessa área.
Essas ações rendem ao longo dos anos um aumento de tributos vindo do comércio assim com uma revigorada na península itálica, depois de tantos anos de conflitos. O intercâmbio entre Oriente e Ocidente aumenta possibilitando o renascimento de arte, filosofia e literatura. A nova nobreza ostrogada, agora romanizada, enriquecendo graças as oficinas estatais, começam a influenciar o Senado e ocupar cargos no mesmo. Casamentos entre filhas de senadores e ostrogodos começam a tornar-se comuns. O senado estava conquistado, agora restava a indiferença dos latifundiários e da igreja.
continua…