[size=150][font=Gabriola][center]DIÁRIO DE COMANDO
30 de dezembro de 1890
Alto Mar[/align]
[justify]Por volta das 2h da madrugada do dia 29, um intenso temporal atingiu aquelas águas. A visibilidade era baixa e o mar se tornou extremamente revolto. As tripulações foram acordadas e colocadas a postos para conter as avarias causadas pelo mau tempo. As chuvas de verão eram potencialmente fortes nesta faixa oceânica e o mais prudente seria em de encontro frontal ao curso noroeste, que traziam fortes vento e a chuva.
As tormentas permaneceram firmes por mais de duas horas antes de perderem força. A bussola indicava que havíamos mudado demais o curso original e ainda não havia visibilidade plena do céu.
Por volta das 4h26 da manhã de ontem, um imenso estrondo atingiu o NSM Cólera. Antes que pudêssemos nos dar contas, outra forte pancada atingiu a popa minutos depois. Corri para o passadiço e o capitão informou que não tinha controle dos lemes. Quando mal ele me contará, outro forte estrondo foi ouvido advindo do NSM Azorrague. Imediatamente ele nos sinalizou que havia sofrido avarias e a água começara a aderná-lo a estibordo.A situação permaneceu sem mudanças por vinte minutos, enquanto ordenei que os holofotes fossem acesos e provessem claridade. O Cólera estava a menos de uma milha de distância do Azorrague, contudo, não tínhamos como ir até ele. Assim este navio tentou ir ao nosso encontro, da forma que podia.
Um grande grunhido fora ouvido e uma forte agitação na água foi percebida. Fui até o pavimento superior da ponte e gritei aos homens para mirarem um dos holofotes na água. Algo grande se movia. Pelo tamanho parecia ser um enorme animal, como uma baleia.
Os homens estavam atônitos no convés. Pasmos observando a situação. Instantes depois começamos a ouvir gritos dos homens do Azorrague. Um dos holofotes quase o alcançava em distância. Vi com meus próprios olhos, aquele navio começar a ser puxado, literalmente, puxado pela popa para dentro da água. Os alarmes soavam tanto no Azorrague quanto no Cólera.
Dei ordens para que se disparasse à dez metros da parte fora d’água do Azorrague. Precisavam ser um tiros perfeitos para acertar a “coisa”. Três disparos dos canhões de 125 mm do Cólera e o outro navio foi violentamente solto, emergindo quase por completo.
O que vimos naquele momento foi irreal. Nada poderia nos preparar para o que iriamos ver, estarrecidos.[/align]
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[justify]A criatura… O monstro… Não sei como descrever aquilo. Os holofotes foram virados para aquilo. E eis que um rugido ensurdecedor ecoaria pela vastidão oceânica, estilhaçando os vidros dos barcos e levando as minhas mãos e as mãos de meus homens aos ouvidos imediatamente. O animal nos encarou por alguns e eternos segundos.
Sem o menor esmorecimento, o que se procederia pareceria lógico. Todos os quatro canhões do Cólera e o único canhão em posição de disparo do Azorrague abriram fogo quase que instantaneamente. Os homens disparavam todo o fogo sem mesmo receberem ordens. O mais puro medo e instinto de combate florescera naquele momento. Nem mesmo eu exitei em tomar uma metralhadora e abrir fogo contra aquela “coisa”.
Nunca antes os tiros haviam de ser tão certeiros. Enormes explosões de fogo e aço retumbavam no parte ventral e dorsal da criatura. Outro rugido foi ouvido, mas desta vez, não com a mesma potência… A criatura combaliu e caia à água, quando um tiro de segunda leva do Azorrague acertou a lateral do crânio que estava mais baixa, esmigalhando-lhe em completude. A queda completa do animal quase virara os dois navios. Avariara, no entanto, o leme do Azorrague
Quando o barco se estabilizou, tive a certeza, naquela fração tão curta de tempo, que havíamos matado a criatura. Ninguém sequer conseguia reagir após o enorme cadáver submergir de vez ao coração do Oceano. Meus batimentos estavam fortemente acelerados como se o animal ainda estivesse ali nos encarando.
Algumas horas após o evento, os homens começavam voltar plenamente a si, ainda que algo como aquilo pudesse aparecer a qualquer instante. O sol raiava no horizonte e lutamos para conter os vazamos em ambos os navios. Eu mesmo fui à frente e fiz o possível para remover a água. A confusa imagem daquele “monstro” ainda pairava em minha mente.
Estávamos à deriva, sem a menor noção de onde nos encontrávamos. A profundidade era maior do que podíamos medir e não havia qualquer sinal de pássaros ou da costa. Assim passamos todo o dia 29 e a noite de ontem para a madrugada de hoje. Pela posição das estrelas, as correntes marítimas nos arrastaram mais do que prevíamos para o meio do Oceano.
Era possível que estivéssemos a mais de quatrocentas milhas náuticas ao noroeste do Continente.
O dia de hoje se passou sem alterações. Não havia nuvens no horizonte e o sol só arrefeceu o problema do mau-cheiro de tanta água ter entrado e molhado o interior do navio. Não temos como lançar âncora e isso me preocupa. A corrente nos levam cada vez mais para o noroeste, e assim mais longe do continente.[/align]
[right]René von Biller
Comandante-em-Chefe da II Frota Imperial[/align][/size][/font]